Posto 120 e Cáceres/MT - ANTES DE CHEGAR NA BOLÍVIA

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*Fotos de hoje: Posto 120 e Cáceres/MT - ANTES DE CHEGAR NA BOLÍVIA



Consegui sair mais ou menos cedo no dia 14/07, às 6h30miin. Fui pedalando tranquilamente pela avenida pouco movimentada de Várzea Grande nesse domingão...Sai sem expectativas, sem um objetivo fixado, pois a cidade de Cáceres estava a 240km de onde eu estava. Logo me afastei da cidade e o meu ritmo era determinado de acordo com a leveza dos pedais. Estava buscando não forçar um ritmo para não me cansar e, dessa forma, fui progredindo rapidamente em um relevo praticamente plano, com apenas ondulações leves. Mais a frente, saindo do vale Cuiabano, dos amigos XOMANOS, começou uma seqüência interminável de um relevo com ondulações um pouco mais acentuadas, que se estenderam até o posto 120 e ficam cada vez mais difíceis até Caceres. Mesmo assim, na maioria das subidas usei muito mais a coroa média, nas descidas eu pegava bastante velocidade com a coroa grande e ia mudando de acordo com a dificuldade da ladeira. A viagem foi bem tranquila, e, ao contrario do que eu pensava, existem muitos estabelecimentos de suporte aos viajantes. Quando percorri cerca de 60km parei em uma lanchonete e tomei uma jarra de caldo-de-cana bem gelado, pois já eram quase onze horas e o calor já estava testando o meu cansaço. Nessa lanchonete, descobri que 60km a frente havia um posto chamado Posto 120, ele tinha esse nome por está localizado exatamente entre Cuiabá e Cáceres, dividindo os 240km de distancia entre as duas cidades.
Com muito sol na cabeça segui em frente, parando para me alongar nas sombras de vez em quando, até que cheguei em um restaurante, já morto de cansado, e pedi uma jarra de suco de laranja e continuei logo em seguida para não esfriar tanto os músculos, pois ainda faltavam 10km. Sai de lá com uma velha dor no joelho direito e fui adequando a forma de pedalar para não força-lo muito, e com isso a dor amenizou, mas meu psicológico começou a ser afetado pelo calor das 13h e cheguei meio que me arrastando até o posto 120.
... Felizmente, todo o trecho da BR070 à oeste de Cuiabá está em ótimas condições, parabéns ao governo de Mato Grosso. Já não posso falar o mesmo de toda a extensão da BR070 ao leste da capital mato-grossense, pois desde Barra do Garças até Cuiabá não há nem resquícios de acostamento, até porque, nunca existiu.


Saí do posto120 às 6h10min e segui pedalando pelo acostamento da BR070. Alguns quilômetros a frente encontrei com os grandes paredões da serra das araras. Margeando aquele imenso maciço serrilhado por cerca de 40km, a estrada finalmente encontra uma passagem em uma pequena depressão na margem sul daquela formação. Depois de 50km percorridos parei num posto onde bebi uma jarra de suco de laranja bem gelado. A partir dali, iniciava-se uma seqüência de subidas mais técnicas onde percorri 10km de ladeiras longas e cansativas, mas o momento mais crítico foi um aclive pesado, de 3km de subidas sinuosas sem acostamento, por conta da terceira faixa. Parei três vezes, a primeira para fotografar a beleza da paisagem à beira do penhasco, a segunda para não atrapalhar as ultrapassagens entre caminhões, e claro, não provocar um acidente, e a última para descansar os músculos das pernas por um minuto. Ao transpor essa etapa mais desgastaste, ainda subi três grandes aclives, intercalados por longas descidas, e para terminar a viagem pedalei mais 26km por um relevo mais plano, de ondulações mais leves e uma seqüência de longas descidas até a cidade de Cáceres.
Cheguei morto de fome e de cansaço! Antes de tudo, procurei um lugar para almoçar e encontrei um PF de R$3,00 que fica localizado entre dois grandes hotéis na entrada da cidade (em frente a um posto desativado).
Depois de devorar a comida perguntei ao dono onde eu encontraria uma pousada mais em conta, pois notei que a estada nos hotéis da cidade eram muito caros. Ele logo me indicou o Hotel Líder! Coloquei minha Bike dentro do quarto, tomei uma choveirada e looona!!!! Só acordei para jantar e dormi novamente.
*De Cáceres são 86km até a Bolívia e mais uns 15km, aproximadamente, em estrada de Barro, até San Mathias, primeira cidade boliviana da fronteira leste com o Brasil.
Pela manhã, tomei café no hotel e saí caminhando até o centro, cerca de meia hora de caminhada, procurando algum lugar para comprar o mapa da Bolívia e alguma casa de câmbio, mas não tive sucesso. Andei até a praça onde havia uma igreja espanhola e depois caminhei até às margens de um dos meandros do rio Paraguai. Lá encontrei um camarada do Norte, artista de rua, ele me chamou para perguntar se eu era malabares, rs... Expliquei o que eu fazia e ficamos conversando, alí, na beira do rio. O nome dele é Hériton, se garante muito em artes com arame! Ele faz objetos em arame e mangueirinhas coloridas: bateria, guitarra, saxofonista, e o que a imaginação disser.... o que me chamou a atenção foi a bicicletinha, muito massa! Eu estava de bobeira naquela manhã e o Heriton quis me ensinar a arte dele, não só a arte dos arames, mas a arte de se virar na filosofia do desapego! Ficamos ali sentados enquanto ele me dava uns toques sobre como moldar os arames e como era a sua filosofia de vida. 
Eu também conversei bastante sobre as minhas concepções filosóficas e logo ele vendeu o porta-retrato que acabara de fazer, tudo a base da negociação e da sinceridade. Na hora do almoço fui com ele conseguir comida num pequeno restaurante flutuante, e o Heriton estava decidido a me ensinar a se virar com o mínimo de recursos, só com a arte e inteligência. Passei o dia andando com ele pela cidade, conseguimos fruta, ele me deu dicas de malabarismo com as três bolinhas, e conseguiu vender todas as bikes que fez. Fomos até o hotel e ele fez uma Bike de presente para mim, na verdade essa é para Sofia, minha sobrinha! Ele ainda vendeu uma Bike para a dona do hotel e me despedi do Heriton no fim do dia. Agradeci por tudo e ele seguiu seu caminho.

Estou aprendendo muito com essa aventura! Muito obrigado amigos e muito obrigado meu Deus!

Rumo ao Topo!










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