Pequeño Alpamayo (5.370m) e Pico Áustria (5.350m)

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Esses dias fui ao vale do Condoriri tentar fazer três montanhas e continuar o processo de aclimatação. Consegui fazer cume em duas das três montanhas que eu havia planejado, foram elas, o Pequeño Alpamayo de 5.370m e o Pico Áustria de 5.350m. Infelizmente, na descida do Alpamayo, novamente, meus pés tiveram problemas, os dedos machucaram muito dentro das botas plásticas o que me deixou impossibilitado de tentar a montanha principal, a Cabeça de Condor de 5.648m. Decidi então retornar à La Paz para curar os ferimentos dos meus pés o mais rápido possível, pois pretendo voltar ao Huayna Potosí e romper a barreira dos seis mil metros, e novamente, tentar fazer seu cume de 6.088m. Essa pequena expedição que durou três dias, onde subi essas duas belas montanhas, foi uma experiência inesquecível! 
Tuni
Fomos de carro com todos os mantimentos e equipamentos até Tuni, que é uma pequena vila de pedra e onde está localizada uma grande barragem que fornece água para toda cidade de La Paz. Descarregamos tudo, almoçamos em uma mesa de pedra ao ar livre, e logo depois, caminhamos por quase três horas por entre os vales que margeiam a Cordilheira Real. Nossas coisas vieram trazidas em mulas. Chegamos no acampamento base por volta das três da tarde e foi uma das visões mais recompensantes que já tive em todos esses meses de viagem do projeto Rumo ao Topo. Fiquei "bestificado" com a beleza daquele lugar. Nos instalamos em uma casinha de pedras, rodeada por um muro também de pedras, localizada às margens de uma laguna enorme, verde, de águas transparentes, e ao redor dessa laguna, que se chama Laguna Chiarkota, imperavam, grandiosos, cerca de dez picos da Cordilheira Real (que envolviam e alimentavam, geograficamente, todos aqueles vales em que caminhamos). Naquela paisagem deslumbrante, ficamos alojados nos domínios dos andes, no vale do Condoriri, enchendo nossos espíritos das energias vindas daqueles colossos nevados. 
O reflexo das montanhas na água da laguna tornava aquele lugar ainda mais fantástico, e para completar o cenário havia um pequeno barquinho dos pescadores locais, que me deixava com o sentimento de está dentro de um quadro, uma pintura viva. Na madrugada da sexta para o sábado eu e Eliseu saímos em direção ao glaciar que dava acesso ao Pequeño Alpamayo, apesar de só ter dormido quarenta minutos eu estava me sentindo muito bem, foram três horas e meia, aproximadamente, sem se cansar, até o cume do pico Tarija, de onde temos acesso à grande rampa de neve e se faz o ataque final ao cume do Pequeño Alpamayo. Mas antes de iniciarmos a escala daquela aresta de gelo, tínhamos que desescalar um abismo de rocha com cerca de sessenta metros, para mim foi o momento mais difícil de toda a escalada. Depois de vencer aquela descensão até a base do Alpamayo, começamos a escalada em si, que foi um pouco mais cansativa por ser uma parede mais íngreme e técnica, mas venci com facilidade a aresta até o seu ponto culminante, onde chegamos exatamente às sete horas da manhã. Estava muito feliz por ter conseguido esse cume, o qual eu havia desejado desde a preparação do Projeto Rumo ao Topo, ainda no Brasil. 
A sensação de não ter mais nada para subir é indescritível! Dali só tinha como descer, e durante a descida meus pés começaram a sofrer com o impacto de toda a descensão, não acreditei que novamente eu ia passar por esse problema. A dor era quase que insuportável, já chegando próximo ao glaciar eu não aguentava dar nem mais um passo, foi aí que sentei na neve e fui escorregando, utilizando o piolet como remo para me dar propulsão. Quando não dava mais para escorregar paramos um pouco...O Eliseu me deu chá de coca bem quente, e em seguida respirei fundo e aguentei a dor até chegar no final do glaciar. Imediatamente tirei as botas plásticas e coloquei a minha bota de trekking que é muito confortável. No resto da trilha até o campo base quase não doeu meus pés. 
Eliseu
A noite, conversei com o Eliseu e avaliamos que não havia possibilidades de eu tentar o Condoriri com os pés daquele jeito, então, chegamos a decisão de fazer apenas o Pico Áustria às cinco da manhã de domingo, pois não precisava colocar as botas plásticas, porque quase não havia neve naquela montanha. Naquela noite dormi perfeitamente bem, acordei com o Eliseu batendo na janela, daí nos preparamos, tomamos chá quente com pão e seguimos direto para encosta do Áustria. O tempo também estava perfeito, sem vento, e eu estava me sentindo muito bem, tanto que segui sem cansar até o seu cume de 5.350m, que fizemos em uma hora e quarenta minutos. Na descida meu pé quase não incomodou, descemos praticamente correndo. 
Fiquei com muita vontade de tentar o Cabeça de Condor mas sabia que não suportaria as botas plásticas naquele momento, então voltei a pensar no plano que tracei com Eliseu. Esperamos um grupo de franceses retornar do Pequeño Alpamayo e retornamos juntos até um grande vale cheio de llamas, onde um carro já nos esperava para retornar à La Paz. Durante a viajem, fiquei refletindo sobre o que poderia ser a causa das lesões nos meus pés, sabia que elas só aconteciam durante a descida. Só quando cheguei no hotel foi que constatei que nos dois casos em que meus pés se lesionaram eu estava usando uma primeira pele que vestia como uma meia calça, dos pés até a cintura, e lembrei que quando me deitava no saco de dormir aquilo ficava dobrando os meus dedos para baixo, então associei logo esse fato às lesões com o impacto da descida em cima dos dedos dobrados por conta dessa primeira pele mais fina. Vou testar escalar sem essa vestimenta no Huayna Potosí, espero que tenha desvendado o problema. Valeu, amigos!! 
RUMO AO TOPO!!!

2 comentários:

  1. A vivência em lugares assim, onde sente-se a força e a beleza da natureza, a avaliação das circunstâncias para decidir o próximo caminho nos faz evoluir e nos aproximar cada vez mais de Deus! Rumo ao Topo!

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  2. Olá, Fábio!
    Em que época do ano você fez essa trip?

    Obrigada!
    Bruna Fávaro Silvio

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